Foram fabricados 114 toucas e 568 cachecóis; 36 detentos da Penitenciária Nelson Hungria participam do projeto Tecendo com o Coração
O inverno chegou e, com ele, o frio, muitas vezes severo para quem mora nas ruas ou em asilos de Minas Gerais. Se depender dos detentos da Penitenciária de Contagem I (Nelson Hungria), contudo, a estação deste ano será um pouco menos rigorosa para alguns moradores de rua e idosos da capital mineira e Região Metropolitana.
Ao todo, 36 detentos da unidade participam do Projeto Tecendo com o Coração, pelo qual confeccionaram 114 toucas e 568 cachecóis; sendo 554 de tecido e outros 14 de crochê, que serão doados para residentes do entorno da rodoviária de Belo Horizonte e para 58 idosos que vivem no Lar Maria Clara, localizado em Contagem.
A entrega dos materiais produzidos será realizada aos moradores de rua em parceria com o grupo Estação do Amor, iniciativa voluntária que atua na arrecadação de alimentos, produtos de higiene e demais itens para os menos favorecidos. A doação será feita na manhã do próximo domingo (4/7). Já a entrega ao lar de idosos será realizada pelas equipes da escola que funciona dentro da unidade prisional, juntamente com servidores da penitenciária, na próxima sexta-feira (9/7). No último sábado (26/6), foram confeccionadas as últimas unidades de toucas e cachecóis antes da distribuição.
Marcos Souza*, 47 anos, está há 9 anos nas ruas e aguarda ansiosamente pela ação. “As noites já são mais frias normalmente, agora no inverno fica ainda pior. Com essas toucas e cachecóis passaremos mais aquecidos. Saber que foram detentos que fizeram é muito bacana, tem um sentido ainda mais especial”, diz.
Proposta
O Tecendo com o Coração surgiu após uma proposta do Governo do Estado de proporcionar aos alunos de todas as escolas estaduais mineiras os melhores sábados letivos de suas vidas. Foi então que a diretora Valdicéia Pavione, da Escola Estadual Paulo Freire, localizada dentro da penitenciária, juntamente com a filha, Caroline, teve a ideia da produção de toucas e cachecóis. A direção da unidade prisional e toda a equipe da escola aderiram à ação, abraçando com entusiasmo a iniciativa de acolher um público mais vulnerável.
“O indivíduo que está dentro de um presídio ou penitenciária muitas vezes sofre discriminação, preconceito. Nós queremos mostrar para a sociedade que ele também é capaz de pensar no próximo. São seres humanos que estão lá, mas têm a capacidade de ajudar”, afirma Valdicéia. “A participação da direção e da minha equipe foi fundamental. Nós conseguimos realmente fazer não só o melhor sábado letivo da vida e sim o melhor sábado das nossas vidas”.
Breno Soares de Oliveira, 39 anos, é um dos participantes do projeto. Ele está há seis anos na unidade prisional e corrobora com a diretora. “Esse tipo de ação ajuda a quebrar o estigma de quem está preso. O que nós temos é o tempo, o carinho pelo próximo e é isso que estamos doando”. Para o detento, o projeto Tecendo com o Coração está contribuindo para trazer de volta uma sensação de pertencimento à sociedade: “É a oportunidade de mostrar que estamos transformando e estamos transformados”.
Adesão
A confecção teve início no dia 19 de junho, sábado letivo, e durante a semana as peças continuaram a ser produzidas pelos alunos dentro das celas. A adesão ao projeto foi totalmente voluntária, sem remição de pena.
O diretor de Atendimento e Ressocialização da penitenciária, Ury Ribeiro, destaca a importância da atitude no contexto da unidade. “É nítida a mudança que eles tiveram após o início da produção. Estão muito empenhados e com vontade de ajudar e fazer bem ao próximo, tanto é que produziram muito dentro das celas e não apenas na sala de aula. Eles se sentem felizes e prestigiados por poder contribuir com a sociedade. Nossa intenção é que os trabalhos permaneçam e sejam ampliados ainda mais”, afirma.
Todos os insumos e materiais para a confecção das toucas e cachecóis vieram a partir de doações de professores, diretores, amigos, Grupo Estação do Amor e de parcerias com a empresa BRTA Transportes, que funciona dentro da unidade e foi a responsável pelos insumos de grande parte dos cachecóis, além do Comércio Eireli.
* Nome fictício para preservar a identidade do morador.
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