Reduzir o consumo desses produtos no cardápio diário é uma maneira eficaz que visa contribuir no combate à obesidade. O ideal é comer com prudência
Menos açúcar. Menos sal. Menos gordura. Como um mantra, todos sabem que o excesso desses três ingredientes são os vilões de uma alimentação saudável. Sem controle, consumidos exageradamente podem prejudicar nosso organismo e causar doenças como a obesidade. Esse é o diagnóstico ignorado por muitos, que gostam de viver perigosamente, e questionado por outros, inclusive especialistas.
A redução na ingestão de açúcar, sal e gordura é uma constante luta. Embate entre governo e indústria, interpretações distintas no meio acadêmico, médico e especialistas em saúde. A população fica no meio, sem saber muito o que fazer e bombardeada de informações que, nem sempre, seguem a mesma linha. Por isso, o menor risco é comer com prudência, de forma equilibrada, educada e com escolhas sábias, nutritivas.
Marcia Daskal é nutricionista formada pela Universidade de São Paulo, mestre em ciências pela Universidade Federal de São Paulo (EPM-Unifesp) e especialista em nutrição e dietética (nutrição do adolescente) pela Associação Brasileira de Nutrição (Asbran). Para ela, o prazer que sentimos com alimentos de sabor adocicado é inato. Além de fornecer carboidratos e energia, eles adicionam sabor, deixando alguns alimentos mais apetitosos e satisfatórios. Sem abuso, o açúcar entra numa dieta equilibrada, assim como o sal e a gordura. Essa opinião é corroborada pelo Guia Alimentar para a População Brasileira, desenvolvido pelo Ministério da Saúde.
A nutricionista, que também é coach de saúde e bem-estar pela Wellcoaches/Carevolution, alerta que nada em excesso faz bem. “A alimentação do brasileiro deve buscar retornar a um padrão mais tradicional, com alimentos regionais. O que parece é que entramos numa era de exageros. Ora comendo impensadamente e em excesso, ora escolhendo vilões e heróis, alimentos bons e ruins. Nenhum dos dois é saudável. Devemos buscar o equilíbrio alimentar”, afirma.
Marcia Daskal lembra que “alimentos como manteiga e ovo e até a carne de porco já foram vilanizados antes, mas se descobriu que retirá-los da alimentação não provocou melhorias na saúde, e que culpá-los por problemas cardiovasculares se mostrou inútil e infundado. O açúcar, juntamente ao glúten e a lactose, são apenas os vilões da vez”.
No diagnóstico de Marcia Daskal, ninguém come ou deixa de comer por decreto. “Os poucos estudos existentes sobre a efetividade da taxação de alimentos indicam que taxar alimentos não resolve. As pessoas continuam comprando. É mais uma questão de ‘fazer barulho’ do que de efetividade na redução do consumo. O açúcar em pequenas quantidades é uma fonte de prazer, que geralmente aparece em contextos sociais positivos, como confraternizações e encontros com familiares e amigos. Assim, para ter uma alimentação saudável, podemos pensar na reeducação alimentar e não na exclusão de um único alimento. Isso é feito tendo uma alimentação variada e evitando o exagero de qualquer alimento. Bom senso e equilíbrio são a chave quando o assunto é alimentação.”
Educação alimentar
Para o médico Daniel Magnoni, nutrólogo e cardiologista do Instituto Dante Pazzanese, a redução ou taxação do açúcar não são decisivas. “É um fato a necessidade de reduzir o consumo de açúcar, assim como outros nutrientes em excesso. Para isso, o brasileiro precisa mudar os hábitos alimentares, o que não se dá com imediatismo. A educação nutricional é o caminho. Existe um problema na falta de conhecimento sobre escolhas conscientes e de um estilo de vida saudável como um todo, contemplando a prática de atividades físicas.”
Daniel Magnoni avisa que o aumento de peso está relacionado, principalmente, aos hábitos decorrentes da vida moderna, que são a má alimentação e o sedentarismo, e não a um ingrediente específico. “O problema é profundo e as autoridades e profissionais de saúde devem entender que ações de educação não ocorrem da noite para o dia. A população hoje caminha na direção contrária de uma vida saudável e isso é muito sério.”
A pesquisa “Consumo Equilibrado: Uma nova percepção sobre o açúcar”, feita com 1,2 mil pacientes do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, que nunca haviam passado por uma consulta com nutricionista, mostrou que 73% das pessoas que consomem açúcar e praticam atividade física estão com peso adequado. “O açúcar não é a causa da obesidade. É necessário o controle do consumo de uma maneira geral. Achar que esse é o problema é fechar os olhos para a saúde pública no Brasil”, acredita.
Compromisso de todos
O Brasil se torna um país de obesos e se a sociedade e o governo não se unirem para reverter ou frear esse quadro, que já é um problema de saúde pública, o cenário só vai piorar. O excesso de peso não é apenas uma questão estética, mas pode contribuir sendo o responsável pelo surgimento de doenças crônicas como hipertensão e diabetes. A falta de dieta balanceada, ingestão sem moderação de alimentos processados ou gordurosos em excesso e até mesmo por ignorância de técnicas específicas durante o preparo do alimento que podem torná-lo mais saudável ou, ao menos, conservar melhor seus nutrientes, são fatais para esse cenário.
Para tentar ajudar, um grupo de especialistas com anos de experiência no setor se uniram par criar a Associação Brasileira para a Promoção da Alimentação Saudável e Sustentável (ABPASS). Para Almir Ribeiro Neto, presidente da instituição, Almir Ribeiro Neto, o verdadeiro desafio é o da educação. “Não será com medidas de curto prazo, não será com obrigações, não será com restrições que vamos obter os melhores resultados. Será com a educação. E tratando-se de educação, temos que olhar para longo prazo. Portanto, não podemos sonhar que vamos combater a obesidade e vamos incrementar o consumo de hortaliças e frutas com restrições, portarias ou com leis e obter resultados a curto prazo. É bom ter em mente que a França, depois de 15 anos de gestão nesses campos, apenas recentemente conseguiu estabilizar o índice de obesidade entre adultos e reverter, ou seja começar a decrescer, o índice de obesidade infantil. Isso significa que não podemos sonhar – e muitas vezes, nós brasileiros somos imediatistas – que vamos conseguir fazer milagres em dois, três ou cinco anos. Temos que ser perseverantes, consistentes, nãoOs alimentos devem ser introduzidos após os seis primeiros meses de vida, de forma lenta e gradual – antes disso, o aleitamento materno exclusivo é o bastante para manter o bebê saudável. Por volta do primeiro ano, os pequenos podem se alimentar da mesma forma que o restante da família, com refeições balanceadas com cereais, tubérculos, carnes, leguminosas, frutas e verduras.
Especialistas indicam que a alimentação seja baseada na curva da pirâmide alimentar, na qual é possível observar quantidades adequadas de açúcares, carboidratos, óleos e gorduras. “É importante desenvolver o cuidado com alimentação da criança desde cedo para que, no estágio pré-escolar e escolar, ela tenha uma noção maior e aceite as opções saudáveis oferecidas tanto em casa quanto na lancheira”, recomenda a pediatra Nathália Sarkis, do Hospital Santa Lúcia e membro titular da Sociedade Brasileira de Pediatria.
Quem sempre cuidou da alimentação da filha foi a médica Juliana Henriques, de 35 anos, mãe de Luiza, de apenas 1 ano e 10 meses. Desde antes do nascimento, a rotina da casa já se adaptava à chegada de um bebê. “Sempre fui contra o consumo de industrializados, embutidos, massas e carboidratos. Evitava-os mesmo antes da gravidez. Agora, apenas continuamos com o costume.”
Quando iniciou a alimentação sólida, criou-se uma rotina e, por isso, segundo a mãe, ela não sente necessidade de comer besteiras. “Andamos com as comidinhas dela separadas em vasilhas térmicas. Quando vamos a alguma festa de aniversário, por exemplo, ela vem e pede o jantar. Não come os salgadinhos”, diz. Em casa, só se bebe água natural, do coco e suco integral. “Incentivar isso agora é a garantia de saúde que ela pode precisar mais para a frente.”
Foi pensando nisso que a advogada e empresária Iza Garcia, de 36, mãe de Bruna Garcia, de 6, procurou informações para fazer as melhores escolhas de cardápio tanto em casa quanto na escola. Desde a introdução alimentar, até hoje, as refeições de Bruna são acompanhadas por uma nutricionista. “Aqui nada é proibido. Priorizamos hábitos saudáveis, mas equilibramos a importância deles também com a leveza, necessária para que o dia a dia seja mais feliz.”
A rotina familiar é compartilhado por Iza em um blog, no qual a empresária, com a ajuda de uma amiga, passa para outras mães a importância de inúmeros cuidados e hábitos saudáveis para o crescimento dos pequenos. A hashtag #lancheiradabruna, no Instagram, é uma forma que a mãe escolheu para compartilhar com os leitores as refeições feitas para a filha. “Eu me preocupo em escolher frutas, proteínas e carboidratos. Sei que na escola ela está em contato com outras crianças que nem sempre têm os mesmos hábitos, então, costumo deixar essa refeição mais livre.” inventar atalhos milagrosos, seguir boas regras que já vem dando resultados em outras partes do mundo e reeducar a população para uma nova fase no que diz respeito à alimentação, desta vez, saudável.”
Tabaco e as dietas
Para Almir Ribeiro, toda essa mudança passa pela educação, estímulos e restrições. “Não podemos deixar de levar em consideração o aprendizado de um passado não muito distante e que foi de grande valia: o combate ao tabaco, que passou por uma fase de esclarecimento, depois de uma fase de educação e, finalmente, para uma fase de restrições. Essa sequência é válida também agora: temos que esclarecer, depois educar, dar estímulos e, finalmente, criar restrições.”
Almir Ribeiro Neto diz que “precisamos convidar a imprensa a fazer eco ao diálogo oficial da OMS, do Ministério da Saúde, do Guia Alimentar, que é reduzir o consumo de açúcar e de sódio e aumentar o consumo de alimentos de origem vegetal. Pegar o Guia da Alimentação e fazê-lo ser o abastecedor dos diálogos, e não a dieta milagrosa que um artista fez, ou que um cientista fez com apenas 20 pessoas e está anunciando resultados fantásticos. É preciso selecionar o que falar. Depois de tratar do discurso oficial, que deve ser a espinha dorsal, aí detalhar dietas para casos específicos”.
Quanto às restrições alimentares, Almir Ribeiro Neto diz que o Brasil pode adotar medidas aplicadas em outros países. “Por exemplo, no Japão, se um homem tem mais de 94cm de cintura, e a mulher mais de 90cm de cintura, eles pagam mais pelos seus planos de assistência médica, simples e objetivo. Se de fato a pessoa tem estas medidas, mostra que ela não está cuidando bem da sua alimentação, está com uma gordura acumulada que é perigosíssima, irá gerar custos adicionais para o seu plano de saúde – um custo que não é para cuidar da saúde, mas para cuidar da doença. Portanto, ele tem que ser estimulado a cuidar da saúde. E cuidar da saúde não é só ir ao médico, é ter uma alimentação saudável, fazer atividade física. Por meio dessa simples medida de cintura ou do IMC (Índice de Massa Corporal) é possível constatar quem está e quem não está bem. E, quem não está bem merece ser acompanhado com mais critério.”
No Brasil, entre as restrições, já está em discussão a sobretaxa, impostos mais elevados, em cima das bebidas açucaradas, assim como a proibição de se vender esse tipo de bebida em ambientes como escolas e hospitais.
Cuidado com os pequenos
Amanda Ferreira
Especial para o EM
Controlar o que os pequenos comem em meio à correria do dia a dia pode ser um desafio. A preocupação dos pais para que os filhos tenham uma alimentação saudável acaba se tornando um grande quebra-cabeça quando o assunto é introduzir esses alimentos nas refeições e pensar no que colocar na lancheirinha da escola. Lanches preparados em casa ajudam a manter a dieta das crianças e dos jovens sob controle e a construir hábitos saudáveis desde cedo.
Fonte: www.em.com.br
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