Leia a entrevista com a médica neurologista Yvely Iunes Akel
Uma estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que cerca de 55 milhões de pessoas vivem com algum tipo de demência, sendo a mais comum a doença de Alzheimer, que atinge sete entre dez indivíduos nessa situação em todo o mundo. Os sintomas geralmente se desenvolvem lentamente e pioram com o tempo, tornando-se graves o suficiente para interferir nas tarefas diárias.
Em entrevista, a médica neurologista Yvely Iunes Akel explica as principais causas da doença e os tratamentos hoje disponíveis para os sintomas.
Quais são as causas da doença de Alzheimer?
Não se sabe exatamente por que a doença de Alzheimer ocorre, mas são conhecidas algumas lesões cerebrais características dessa doença. As duas principais alterações que se apresentam são as placas senis decorrentes do depósito de proteína beta-amiloide, anormalmente produzida, e os emaranhados neurofibrilares, frutos da hiperfosforilação da proteína tau. Outra alteração observada é a redução do número das células nervosas (neurônios) e das ligações entre elas (sinapses), com redução progressiva do volume cerebral.
Estudos recentes demonstram que essas alterações cerebrais já estariam instaladas antes do aparecimento de sintomas demenciais. Por isso, quando aparecem as manifestações clínicas que permitem o estabelecimento do diagnóstico, diz-se que teve início a fase demencial da doença.
As perdas neuronais não acontecem de maneira homogênea. As áreas comumente mais atingidas são as de células nervosas (neurônios) responsáveis pela memória e pelas funções executivas que envolvem planejamento e execução de funções complexas. Outras áreas tendem a ser atingidas, posteriormente, ampliando as perdas.
Quais são os sintomas?
É uma doença progressiva, onde os sintomas de demência pioram gradualmente ao longo de vários anos. Nos estágios iniciais, a perda de memória é leve, mas com o Alzheimer em estágio avançado, os indivíduos perdem a capacidade de manter uma conversa e responder ao ambiente.
Tem cura?
A doença de Alzheimer não tem cura, mas os tratamentos para os sintomas estão disponíveis e a pesquisa continua. Embora os tratamentos atuais para a doença de Alzheimer não possam impedir sua progressão, eles podem retardar temporariamente o agravamento dos sintomas de demência e melhorar a qualidade de vida das pessoas e de seus familiares.
Além da terapia medicamentosa, existem outras formas de ajudar as pessoas que têm esse quadro. Entre elas temos:
- Estimulação cognitiva: jogos, desafios mentais, resgate de histórias entre outros…
- Estimulação social: comunicação, convivência e afeto;
- Estimulação física: prática da atividade física e de fisioterapia;
- Organização do ambiente de forma que fique tranquilo com voz amena e evitando conflitos desnecessários.
É possível fazer algum tipo de prevenção?
Não existe prevenção e, sim, mecanismos de proteção para diminuir o risco de desenvolver a doença. Se a ciência ainda não sabe explicar exatamente o que causa os depósitos de placas de proteínas no cérebro, estudos já indicam que há fatores ambientais implicados em aumento do risco dessa demência, incluindo aqueles mesmos que elevam as chances doenças cardiovasculares e o câncer como sedentarismo, obesidade, diabetes, tabagismo e excesso de consumo de bebidas alcoólicas. Portanto, o esforço feito ainda na meia-idade para envelhecer bem, embora não previna diretamente a doença, vale também para a manutenção da saúde cerebral.
A baixa escolaridade está relacionada ao desenvolvimento do Alzheimer. A riqueza de conexões advinda da atividade intelectual ajuda os impulsos nervosos a terem mais caminhos para contornar as lesões cerebrais e retarda o surgimento dos sintomas. Por isso, recomenda-se manter sempre uma atividade que estimule o trabalho cerebral. Invista em desafiar o cérebro com leituras, jogos tradicionais e eletrônicos, palavras cruzadas, cursos e novos aprendizados. Comece já!
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