Fliarxá mantém a tradição dos sacos de pães com poesia

A proposta é simples, porém impactante: em vez de distribuir sacos de pão comuns, o Fliaraxá, como é tradição do Festival, decidiu imprimir poemas dos autores homenageados em cada edição, em sacos de papel de pão, um objeto comum em um suporte de expressão artística. Os poemas são cuidadosamente selecionados para despertar emoções, reflexões e conexões com o leitor, buscando levar poesia e arte para o cotidiano das pessoas de uma forma inovadora.

Ao todo, 36 mil sacos de um, três e cinco quilos foram produzidos. Ao combinar a distribuição desses sacos de pão em padarias e estabelecimentos locais, o projeto alcança um público diversificado, que talvez nunca tenha tido contato direto com a poesia. Essa abordagem democratiza o acesso à literatura, permitindo que as pessoas descubram a beleza das palavras num contexto inesperado do cotidiano. Além disso, a iniciativa também valoriza o trabalho dos autores homenageados, proporcionando visibilidade e reconhecimento à sua literatura.  Segundo o curador Afonso Borges, “esse tipo de intervenção artística no cotidiano das pessoas é fundamental para despertar o interesse pela literatura e pela cultura de forma geral”.

Ricardo Torres posa com o saco de pão do Fliaraxá (Foto: Letícia Brant)

Ao encontrar um poema ao pegar o pão, as pessoas são convidadas a pausar, refletir e apreciar a beleza da linguagem. A arte é levada para o espaço público, envolvendo e transformando momentos simples em experiências enriquecedoras.

Leia, a seguir, o texto dos poemas:

Fantasia-me (Eliana Alvez Cruz)

Com os sonhos de terras distantes desenhadas em blocos transatlânticos

Pintados embaixo dos olhos

Vista-me

Com palhas, penas, plumas, panos baratos ou caros estampados plenos de significados

Banhe meu corpo com as chuvas alegres acumuladas dos mormaços de verões em nuvens de chumbo

Idealiza-me na miragem das tinturas a esconder-me a face

Ou a revelar o que me vai por dentro

Além do carnaval

Fantasia-me

Descobrimento (Mário de Andrade)

Abancado à escrivaninha em São Paulo

Na minha casa da rua Lopes Chaves

De supetão senti um friúme por dentro.

Fiquei trêmulo, muito comovido

Com o livro palerma olhando pra mim.

Não vê que me lembrei que lá no Norte, meu Deus!

muito longe de mim

Na escuridão ativa da noite que caiu

Um homem pálido magro de cabelo escorrendo nos olhos,

Depois de fazer uma pele com a borracha do dia,

Faz pouco se deitou, está dormindo.

Esse homem é brasileiro que nem eu.

(“Descobrimento” é um poema publicado em Clan do Jabuti)

Líria Porto

Nem tanto ao mar

Muito amor esmaga

Pouco amor esmurra

O amor não seque

nem transborde

flua

Sobre o 11.° Fliaraxá

“Educação, Literatura e Patrimônio” é o tema do 11.° Festival Literário de Araxá – Fliaraxá –, que acontecerá de 5 a 9 de julho. O evento será montado no Estádio Municipal Fausto Alvim, no centro de Araxá. A estrutura inclui livraria, espaço para crianças, três auditórios para debates, além da área de gastronomia e um imperdível palco para as atrações musicais. Presencialmente, o Festival recebe nesta edição um grupo representativo de autores, como Eliana Alvez Cruz, Itamar Vieira Jr, Jeferson Tenório, Tom Farias, Juliana Monteiro e Jamil Chade.

O Fliaraxá é patrocinado há 11 anos pela CBMM, via Lei Federal de Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura, com o apoio do Itaú, Cemig, TV Integração, Prefeitura Municipal de Araxá, Fundação Calmon Barreto, Câmara Municipal de Araxá, Academia Araxaense de Letras e Condor Eventos.

11.º Festival Literário de Araxá – Fliaraxá

De 5 a 9 de julho 2023, de quarta-feira a domingo

Tema: “Educação, Literatura e Patrimônio”

Local: Programação presencial no estacionamento do Estádio Municipal Fausto Alvim (Av. Imbiara – Centro, Araxá) e programação digital no YouTube, Instagram e Facebook – @fliaraxa

Informações:

@fliaraxa – www.fliaraxa.com.br