O autor estará presente no Fliaraxá 2019 e participa da mesa Economia do livro junto com Talita Taliberti, Simone Paulino e Elisa Ventura, às 15h30, e também da mesa As diversas estéticas da ficção, com Marina Colasanti e Ignácio de Loyola Brandão, no mesmo horário.
O primeiro romance de Luiz Ruffato rendeu ao autor o Troféu APCA e o Prêmio Machado de Assis da Fundação Biblioteca Nacional. A obra tem uma estrutura construída de forma não linear, composta por 70 fragmentos. A ligação entre eles é a questão de que todas as narrativas acontecem em um só dia, 9 de maio de 2000, em são. O título do livro faz referência ao poema “Dos Cavalos da Inconfidência”, poema de Cecília Meireles.
Luiz Ruffato recebeu ainda o prêmio Jabuti (duas vezes), e prêmios internacionais, como Casa de las Américas (Cuba) e Hermann Hesse (Alemanha). Seus livros estão publicados em 12 países.
Em entrevista ao Fliaraxá ele comentou sobre a sua carreira pessoal e profissional, sobre suas obras e sobre a importância do Festival Literário de Araxá.
Você veio de uma origem humilde, sua mãe lavadeira e o seu pai pipoqueiro. Como essa realidade está presente em suas obras? Principalmente em Inferno Provisório.
Desde quando pensei, pela primeira vez, em me dedicar à literatura, tinha como objetivo representar a classe média baixa, que, embora signifique a maior parte da sociedade brasileira, está totalmente ausente das páginas dos livros. Então, desde a publicação de Eles eram muitos cavalos, em 2001, venho me empenhando em criar histórias que privilegiem a vida e os desejos de gente trabalhadora e invisível, o que, de certa maneira, é uma forma de homenagear e presentificar meus pais e irmãos e amigos de infância e adolescência.
Você fala que o seu livro Eles eram muito cavalos é uma instalação literária. Por que?
Trata-se de um livro de ficção de gênero indeterminado. Não é um a coleção de contos, pois há ali fragmentos de jornais, anúncios publicitários, simples descrições de locais ou de coisas. Não é um poema em prosa, não é crônica, não é jornalismo, não é romance… Ou seja, é um livro que não se encaixa em nenhuma prateleira pré-concebida, embora pertença a uma família literária antiga. Por isso, eu o denomino instalação literária, pois este procedimento das artes plásticas talvez seja o que mais se aproxime de uma possível identificação.
Por que você demorou 15 anos para se tornar escritor?
Por ignorância! Eu sabia sobre o que escrever, ou seja, o tema (as agruras da classe média brasileira), mas não sabia como escrever, ou seja, a forma. E sou um formalista – ou seja, alguém que privilegia a forma. Para mim, a literatura, a literatura de que gosto, como leitor, e também como escritor, não é aquela que conta uma história, mas aquela que narra uma história. Conteúdo sem forma não me interessa. Assim como forma sem conteúdo também não. O que busco, tenho buscado ao longo de toda a minha trajetória, é o equilíbrio entre forma e conteúdo. Por isso, antes de escrever meu primeiro livro, passei não 15, mas muito mais anos, apenas pesquisando este equilíbrio.
No Fliaraxá você vai participar da mesa sobre estética das ficções. O que quer dizer, pra você, pensar a estética nas ficções?
É isso, ou seja, a busca do equilíbrio entre forma e conteúdo. E, para mim, isso significa: quando se escolhe um conteúdo, escolhe-se imediatamente uma forma. Isso significa que estética e política convergem para o mesmo ponto. Para mim, o grande desafio não é encontrar um tema, mas torná-lo literatura. E só há uma maneira de escrever uma história: a questão é encontrar essa forma.
Quando falamos “Literatura, Leitura e Imaginação”, tema do oitavo Fliaraxá, o que você pensa?
Esses são os eixos que alimentam a literatura. A Literatura só é possível se existir antes a Leitura – tanto para o autor quando para o leitor. E ambos, autor e leitor, Literatura e Leitura, alimentam e são alimentados pela Imaginação. E Literatura, Leitura e Imaginação são emancipadores dos seres humanos. Sem Literatura, sem Leitura, sem Imaginação, estamos destinados à mediocridade, em todos os sentidos, político, econômico, social.
Você acompanha o Fliaraxá desde as primeiras edições e participa de festivais literários pelo mundo. Como você avalia o Festival?
Para mim, o Fliaraxá é o melhor festival literário do Brasil, pelo clima que se estabelece entre os autores e entre os autores e o público; pelo número de participantes; pelo local incrível em que ocorre (as antigas Termas de Araxá); pelo fato de que os autores são remunerados; pelo fato de estar bastante fora do eixo Rio-São Paulo; pelo fato de prestigiar a literatura da cidade e da região; e pelo fato de todos os anos lá se realizarem as discussões mais interessantes da literatura e da cultura lusófona.
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