“Medo de Motocicleta”
Nessa crônica vou lembrar um dos momentos de almoço com meu sogro. Ele é mineiro, mas foi morar no Rio de Janeiro ainda menino e possui esse jeito um pouco difícil de definir, de mineiro com carioca. Todos os almoços ele tem relatos para contar, levando sempre todos a risos contidos e engasgos quando fica meio que nervoso contando suas aventuras.
Em um desses almoços relatou um episódio que deixou claro seu grande medo de motocicleta, pois acha perigoso, inseguro, uma loucura!Penso que como motorista de caminhão deve achar uma diferença enorme de um veículo para outro, estranhando aquele motor encima de duas rodas.
O momento que vou relatar ele viveu em um de seus empregos como caminhoneiro, foi quando solicitaram que fosse buscar um caminhão que estava distante na mesma cidade e teria que ser levado por outro funcionário de moto, era o Madurinho, apelido desses dos cariocas que sempre é difícil decifrar. Esse tal de Madurinho era meio doidinho segundo meu sogro e seria impossível sentar naquele motor com duas rodas dirigido por esse elemento.Depois de muita discussão e negação de ir em tal empreitada não é que convenceram o Zequinha (meu sogro) a se aventurar pelas ruas esburacadas e cheias de valetas com esse piloto Madurinho e buscar o caminhão desejado.
Com muita tremedeira e pensando que não deveria nunca fazer aquilo ele sentou na garupa, sentiu o vibrar do motor, a insegurança do garupa com aquele ronco e calor nas pernas daquele veículo.Relatando com certa ansiedade e raiva o“calzo”, um pouco nervoso de relembrar e almoçando lentamente, ele desenrola os momentos vividos até o momento fatídico do passeio – aventura -profissional daquele dia.
Tudo começa com a arrancada inesperada do Madurinho já pra assustar de propósito, um carioca típico.De imediato meu sogro agarra na cintura do Madurinho e diz “tá doido”, sem qualquer cuidado com o medo do outro, o colega de trabalho resolve tirar aquele momento pra se divertir, assim passa por valetas, buracos, dá freadas sem cuidado e logo meu sogro ficou sem voz, mudo e congelado pelo medo daquilo que nunca deveria ter topado na vida.
Madurinho muito confiante de seu sucesso nas artes de “pilotar” relaxou e acabou topando com uma valeta enorme que jamais a moto conseguiria transpor naquela velocidade toda, foi quando meu sogro gritou “paarraaa” e no mesmo instante sentiu um coice, como de um cavalo musculoso de baixo para cima, como um propulsor atômico, e os dois voaram com moto e tudo ao passarem por tal obstáculo.Cada um voou para um lado como se os destinos não estivessem ligados, Madurinho foi pro asfalto de um lado e meu sogro pro outro,conta que abriu os braços como que se tivesse asas tentando planar para diminuir os efeitos do tombo a chegar, foi quando com o grito de desespero sua dentadura se projetou como um pássaro em maior velocidade que ele e o Madurinho juntos para um terreno baldio na mesma direção de voo e assim aterrissaram.A dentadura primeiro, em seguida chega meu sogro com todo(nenhum) planar de braços abertos no meio do capinzal que por sorte do destino estava ali esperando para amortizar a dupla separada recentemente.
Chegando ao solo firme, tremendo e com raiva do colega de trabalho logo se preocupou com sua dentadura, como comeria sem ela, visto que não tinha outra de reserva, naquela tremedeira foi procurando a tal sem sucesso por um tempo suficiente para que o Madurinho fosse até ele com a moto toda estragada perguntar como ele estava. Nesse momento pensando que estava vivo evitou conversar com o colega e teve que ir embora de ônibus sem o objeto tão necessário. Depois de 3 dias de sopa e muita raiva resolveu voltar ao fatídico local para tentar achar a importante companheira. Disse que simulou a projeção voada no ângulo mais perfeito possível e distância suficiente encontrou o que precisava, feliz estando completo, foi comer algo sólido e dizer que nunca mais andaria de moto, até o momento está cumprindo a promessa.
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