Levantamento no Google Trends mostra ainda que, apesar de proibido, o aumento nas buscas por termos relacionados cresceram em 1.550% no mesmo período, em todo o Brasil
A disseminação massiva dos cigarros eletrônicos no país, apesar de proibidos pela Anvisa, fez com as pessoas se interessassem a procurar ainda mais pelo produto, seja para tirar dúvidas ou, até mesmo, encontrar lugares para comprar. Segundo levantamento no Google Trends, a procura na web por termos relacionados aos cigarros eletrônicos aumentou em média 1.550% no último ano e, só em Minas Gerais, o termo ‘pod’ demonstrou o aumento de mais 90% nas buscas.
Segundo pesquisa do Ipec, o consumo de cigarros eletrônicos também cresceu em Minas Gerais. O número de consumidores passou de 0,9% para 1,8% da população total nos últimos seis anos. Ainda segundo o Ipec, em todo o Brasil, quase 3 milhões de adultos consumiram cigarros eletrônicos até 30 dias antes de responder à pesquisa realizada entre junho e outubro de 2023, e 6,3 milhões de pessoas maiores de 18 anos experimentaram o dispositivo em 2023 – um produto vendido 100% na ilegalidade.
Os vaporizadores, popularmente conhecidos como “vapes”, se transformaram em uma verdadeira febre e podem ser encontrados à venda em diversos estabelecimentos como bares, baladas, além de sites, nas redes sociais e até em aplicativos de entrega. Muitas vezes, o consumidor não tem o conhecimento de que 100% da comercialização no país é proveniente de contrabando. “Todas essas pessoas estão expostas a produtos ilegais e desconhecem qual é a procedência, quem são os fabricantes ou qual é a composição real desses dispositivos, já que não há uma regulamentação que define as normas sanitárias para a venda e fabricação dos cigarros eletrônicos”, explica Dra. Alessandra Bastos, farmacêutica, ex-diretora da Anvisa e consultora científica da BAT Brasil.
Em todo o mundo, mais de 80 países regulamentaram os cigarros eletrônicos baseados em estudos científicos que concluíram que os produtos não são inócuos, mas representam alternativas de risco reduzido em relação ao cigarro tradicional para adultos fumantes. A maior revisão científica sobre o tema foi publicada em 2022 pelo King´s College London e endossada pelo Ministério de Saúde Inglês, o documento afirma que o consumo de cigarros eletrônicos “apresenta apenas uma pequena fração do risco de fumar”. Em dezembro de 2023, o Parlamento Europeu aprovou um relatório que prevê ações de combate a Doenças Não Transmissíveis (DNT). Entre as principais práticas presentes no documento está o apoio à redução de danos do tabaco e o reconhecimento dos cigarros eletrônicos como alternativa ao cigarro tradicional.
Em janeiro de 2024, Cochrane, reconhecida rede internacional de saúde pública independente com sede no Reino Unido, atualizou seus estudos sobre o tema e concluiu que há forte evidência de que os cigarros eletrônicos com nicotina são eficazes para a cessação do cigarro tradicional. A análise envolveu mais de 400 estudos com cerca de 184 mil indivíduos.
“A proibição, que inicialmente foi uma medida de proteção já que há 14 anos não existiam muitos estudos científicos sobre o assunto, hoje inviabiliza o acesso a essa opção de forma monitorada e fiscalizada para adultos fumantes que desejam reduzir danos à saúde, além de deixar o consumidor totalmente vulnerável para adquirir um produto sem qualquer tipo de controle sanitário”, comenta Dra. Alessandra.
Entre os países que regulamentaram os vaporizadores e produtos de tabaco aquecido estão Estados Unidos, Canadá, Nova Zelândia, Suécia, todos os membros da União Europeia e do Reino Unido. “Enquanto o Brasil ignorar as evidências científicas e não utilizar a experiência internacional para regulamentar o mercado de cigarros eletrônicos, a população corre risco de uma crise de saúde pública, pelo uso desregrado e descontrolado dos dispositivos”, conclui a ex-diretora da Anvisa.
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