Depois da conversa, a autora passeou pelo evento durante uma leve conversa sobre a vida, sonhos e sobre o medo de quase nada. “Agora eu estou adquirindo uma nova profissão, estou virando declamadora. Não tenho nada a perder aos 76 anos”, explica Maria Valéria ao dizer que grava textos e poemas para discos de amigos e conhecidos.
Durante o trajeto entre a Sala Esmeralda e o camarim, onde faria uma sessão de fotos, a autora foi parada diversas vezes. Em todas elas, mostrava simpatia e atenção. “As crianças cantam, dançam, inventam histórias o tempo inteiro, elas fazem todas as artes até o momento em que são podadas para viverem o ‘mundo real’”, comenta. “Depois, temos que nos adequar a um mundo pré-moldado, que não nos permite fazer arte”, explica.
Maria Valéria, que é freira, contou que nasceu e cresceu em uma família de artistas, sendo sempre incentivada a explorar seu potencial criativo. “Infelizmente, é um privilégio para poucos. Se você não teve esse privilégio, tem que se revoltar com você mesmo para sair desse lugar em que o mundo te coloca”, conta.
Carta à Rainha Louca
A autora foi convidada pela Comissão de Estudos de História da Igreja na América Latina para fazer um curso de especialização em história da América Latina, no México. No meio dos estudos, ela encontrou uma carta do século XVIII, redigida de próprio punho por uma mulher acusada de tentar criar um convento clandestino em Minas Gerais, onde era proibido a fundação de qualquer ordem religiosa. Essa carta é o único registro encontrado pela autora. Ninguém soube de mais detalhes ou o desfecho sobre a história da mulher. “Por isso eu decidi contar essa história, ela não podia continuar arquivada, era injusto”, explica.
Carta à Rainha Louca constrói uma história semi-fictícia, tendo como base o contexto histórico do Brasil colonial. A narrativa, em primeira pessoa, se dá a partir do momento em que a protagonista descobre que uma figura feminina está no trono em Portugal, a rainha Maria I. A linguagem do livro de Maria Valéria mescla o vocabulário do século XVIII com a escrita moderna.
Outras obras
Maria Valéria Rezende estreou na literatura em 2001 com o livro Vasto Mundo, mas já escrevia desde a infância. Em 2009, ganhou o prêmio Jabuti na categoria Literatura Infantil com “No risco do Caracol”. Em 2013, a premiação veio novamente com juvenil “Ouro dentro da cabeça”. Em 2015 não foi diferente. A autora foi premiada nas categorias Romance e Livro do Ano de Ficção com o livro “Quarenta Dias”. Em 2017, recebeu o Prêmio Casa de las Américas por “Outros Cantos”. Ainda com esse livro ganhou o Prêmio São Paulo de Literatura e o terceiro lugar no Prêmio Jabuti em 2017.
(Anna Célia Carvalho e Jaiane Souza)
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