Iniciativa da Sejusp em parceria com a Embaixada Americana ensina novo ofício com o objetivo de promover alternativas de fonte de renda
Raquel está entre as cem mulheres de baixa renda, vítimas de violência doméstica, que são atendidas pelo Programa Mediação de Conflitos (PMC), na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), e estão tendo a chance de mudar de vida por meio do projeto TransformAction. Os cursos são promovidos pela Subsecretaria de Prevenção à Criminalidade (Supec), da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), e financiados pela Embaixada Americana (U$ 22,4 mil dólares da Embaixada Americana, com origem em edital da instituição).
Os cursos
Nesta semana (7 a 11/6), começaram as primeiras aulas de todos os quatro cursos disponibilizados. Cerca de 20 mulheres têm frequentado a capacitação, das 13h às 17h, na Associação Mineira de Educação Continuada (Asmec), na capital.
O encerramento desta primeira etapa está previsto para 18/6 e, logo em seguida, no dia 21/6, será o momento das aulas de costura criativa, também com duas semanas de duração. Nas outras semanas serão ministrados os cursos de culinária com ênfase em pizza e snacks e, por último, cabelereiro e maquiagem. A previsão é encerrar as capacitações em 13/8.
A escolha do nome, TransformAction, remete ao objetivo do projeto: transformar por meio da ação e fazer dessas mulheres agentes de mudança de suas próprias vidas. A intenção é dar oportunidade para que tenham uma profissão ou o próprio negócio, criando suas fontes de renda.
Abrangência
Os cursos foram escolhidos pelas próprias mulheres, a partir de uma pesquisa realizada pelo PMC com as vítimas de violência doméstica atendidas pelo programa. As participantes vêm do acolhimento nas Unidades de Prevenção à Criminalidade (UPCs) das comunidades Serra, Santa Lúcia, Cabana, Morro das Pedras, Pedreira Padro Lopes, Taquaril, Jardim Felicidade, Ribeiro de Abreu, Jardim Leblon, Vila Cemig e Vila Pinho.
“É uma grande oportunidade para cem mulheres que vivem essa situação de vulnerabilidade. Quanto mais autônomas as mulheres são, menores são os riscos de elas sofrerem violência. Então, escolhemos cursos profissionalizantes pela necessidade de elas se qualificarem e gerarem renda, sendo então um fator emancipador na situação em que vivem”, explica a subsecretária de Prevenção à Criminalidade da Sejusp, Andreza Gomes.
As inscritas recebem kit de material didático para acompanhar as aulas e vale transporte diário. Ao final da formação, elas receberão um kit básico com equipamentos e produtos, de acordo com o curso escolhido, para que possam iniciar o próprio negócio. Alunas do curso de maquiagem, por exemplo, terão os produtos para começar a trabalhar assim que concluírem a formação.
Para a cônsul dos Estados Unidos em Belo Horizonte, Katherine Ordoñez, o apoio a iniciativas como essa faz parte do legado de união entre as nações. “O Escritório dos EUA em Belo Horizonte busca realizar projetos que trabalhem com valores e interesses compartilhados entre nossos países, e que possuam um impacto positivo na sociedade”, destaca.
A cônsul afirma ainda que os Estados Unidos e o Brasil compartilham o compromisso de remover barreiras a oportunidades econômica, de educação, saúde e justiça para grupos historicamente marginalizados, incluindo mulheres e meninas. “Vimos a importância de apoiar esse projeto de combate à violência de gênero. Acreditamos que a capacitação e o empoderamento econômico dessas mulheres é essencial para que elas possam sair da situação de agressão”, reforça.
Formação humana
Além da formação profissional, as mulheres também terão acesso a aulas como Direito das mulheres e Comunicação não-violenta, Ensinando mulheres sobre a vida profissional, A importância de ser feliz com você mesma (saúde e autoestima) e Ensinando mulheres sobre educação financeira.
“Não é somente profissionalizante. O projeto também tem uma parte voltada para a mulher enquanto mulher da sua vida, criando nelas o sentimento de equipe, mostrando seus direitos, preparando para o mercado de trabalho, e outros aprendizados que podem auxiliá-las a ter mais qualificação, mais autonomia, mais renda”, complementa a subsecretária Andreza Gomes.
As disciplinas teóricas e de formação humana têm sido as preferidas das mulheres. O ambiente da sala de aula é de grande descontração e surpresa, pois elas percebem que podem se abrir e dividir umas com as outras seus próprios dilemas. “Foi muito mais do que eu imaginava”, diz Alexsandra Eugênia Paulo Dias, 26 anos, moradora do Alto das Antenas. “Achei que ia chegar aqui e pegar uma apostila, olhar um slide e apenas escrever e ouvir. Pelo contrário: estou me sentindo abraçada, compreendida. O curso nos deu a oportunidade de falar também”, conta.
Jussara Borges da Silva, 39 anos, moradora do Morro Papagaio, conhece o PMC há mais de três anos e, juntamente com o programa, já ajudou muitas mulheres a sair de situações de violência. “Eu passei por isso, consegui vencer e me sinto privilegiada em fazer parte do grupo e poder ajudar outras mulheres. Estar aqui compartilhando e ouvindo experiências é bem maior e melhor do que eu esperava. Quando a gente pensa em curso administrativo, pensa só na parte financeira. O trabalho está mexendo com a gente de dentro pra fora. É bem mais do que só administração”, destaca.
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