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Atraso na fala infantil: quando procurar ajuda médica?
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Atraso na fala infantil: quando procurar ajuda médica?

Atraso na fala infantil: quando procurar ajuda médica?

A fonoaudióloga Juliana Gomes faz um alerta sobre os marcos de linguagem, causas mais comuns dos atrasos na fala e explica quais são os resultados do tratamento precoce.

A alegria das primeiras palavras costuma chegar perto do primeiro aniversário, quando “mamãe” e “papai” soam pela casa. Se, porém, a criança completa dois anos sem combinar ao menos duas palavras (“quero água”, “pega bola”), é hora de ligar o sinal de alerta. “Entre 12 e 24 meses a fala avança num ritmo previsível; ignorar atrasos com a frase ‘cada criança tem seu tempo’ faz com que problemas reais passem despercebidos”, afirma a fonoaudióloga Juliana Gomes, especialista em linguagem infantil e CEO da Clínica Life.

Segundo a profissional, os marcos de linguagem considerados mínimos pela Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia preveem balbucio variado aos 9 meses, pelo menos dez palavras com significado aos 18 meses e frases de duas palavras antes dos 24 meses. Entre os sinais de alerta também entram ausência de apontar para pedir objetos, pouca troca de olhares e preferência por gestos em lugar da voz.

Dados de uma pesquisa do Ministério da Saúde indicam que cerca de 12% das crianças brasileiras de até cinco anos apresentam suspeita de atraso no desenvolvimento, incluindo linguagem. A literatura médica lista diversas causas para o atraso: perda auditiva leve, distúrbios motores de fala, transtornos do neurodesenvolvimento — entre eles o autismo — e falta de estímulo em casa. “Só o otorrino consegue descartar surdez; só exame clínico descarta apraxia. Em caso de atraso na fala, esperar que a criança fale espontaneamente é perder tempo terapêutico”, diz a especialista.

Outro ponto de alerta aos pais é o uso excessivo de telas pelas crianças. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Hospital para Crianças Doentes da Universidade de Toronto, no Canadá, 30 minutos de uso diário desses aparelhos aumenta em 49% as chances de atraso no desenvolvimento da fala de bebês. Já um estudo publicado no Journal of Psychiatric Research analisou dados de 28.484 crianças em idade pré-escolar e revelou que aquelas com duas ou mais horas diárias de tempo de tela tinham de 1,54 a 2,38 vezes mais chances de apresentar distúrbios de fala e quase o dobro de risco de dificuldades de aprendizagem, em comparação com as que usavam telas por uma hora ou menos por dia.

Criança fazendo uma sessão de terapia ocupacional. (Crédito: Freepik)

A importância do estímulo precoce

É na primeira infância que o cérebro atinge o pico de neuroplasticidade, período em que as conexões neuronais se organizam com maior rapidez. Estudos da Academia Americana de Pediatria mostram que intervenções iniciadas antes dos três anos dobram a chance de a criança alcançar uma linguagem funcional na idade escolar. “Esperar pode custar a fase em que o cérebro aprende mais fácil”, alerta a fonoaudióloga.

O protocolo recomendado envolve avaliação do pediatra, triagem auditiva e consulta fonoaudiológica. Quando necessário, neuropediatra, terapeuta ocupacional e psicólogo completam o quadro. As sessões, de 30 a 45 minutos, priorizam exercícios de motricidade orofacial, expansão de vocabulário e orientação familiar. A comunicação alternativa — pranchas de figuras ou aplicativos — costuma ser introduzida para reduzir a frustração enquanto a fala não se estabelece.

“A meta é que a criança compreenda, se faça entender e evolua mês a mês”, ressalta Juliana Gomes. De acordo com a fonoaudióloga, se o progresso não acontece, o atraso não pode ser rotulado como simples variação do desenvolvimento.

Nos casos leves, em média, três a seis meses de terapia costumam colocar a criança na curva típica. Em atrasos moderados, o acompanhamento geralmente pode durar até dois anos, sempre com reavaliações trimestrais. Para apraxia de fala e distúrbios de linguagem persistentes, é esperado que o tratamento siga até a alfabetização. “Quanto mais cedo começamos, menor o tempo total de intervenção e melhor o rendimento escolar”, destaca Juliana.

A especialista lembra que trocar o /r/ por /l/, ou engasgar nos encontros consonantais /lh/ e /tr/, até cinco anos pode ser apenas variação fonológica. Mas a ausência de frases curtas aos 30 meses ou vocabulário inferior a 50 palavras aos dois anos exige exame detalhado. “Há solução. O que não pode é deixar para depois”, finaliza a fonoaudióloga Juliana Gomes.

Tabela com marcos esperados no desenvolvimento da fala de bebês e crianças. (Divulgação)

Principais causas de atraso

  1. Perda auditiva leve — muitas vezes imperceptível na rotina.
  2. Exposição excessiva a telas — substitui a interação humana necessária à aquisição de linguagem.
  3. Distúrbios de linguagem específicos ou apraxia de fala — quando o cérebro planeja mal os movimentos para articular sons.
  4. Transtornos do neurodesenvolvimento (como o autismo) ou deficiência intelectual.
  5. Falta de estímulo — ambiente com poucas conversas, leitura ou brincadeiras simbólicas.

Sobre Juliana Gomes: é fonoaudióloga, especialista em comunicação alternativa e linguagem infantil, capacitada em transtornos de leitura e escrita. Atua há mais de 10 anos nos transtornos de linguagem oral, escrita e autismo. É fundadora e CEO da Clínica Life, localizada no município de Serra, no Espírito Santo.

Bem Brasil – fevereiro
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