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Encruzilhadas da educação: literatura que abre portas
Cultura

Encruzilhadas da educação: literatura que abre portas

Encruzilhadas da educação: literatura que abre portas

Carlos Vinícius, curador local do Fliaraxá, reencontrou sua professora Luciene em uma mesa marcada por emoção e pela defesa da leitura como caminho de transformação

“Vejo muitas camisas da escola Armando Santos, que é a escola que eu estudei e vamos falar muito sobre isso aqui hoje. Mas, antes, quero apresentar uma pessoa que eu tenho um carinho muito grande, que foi minha professora de literatura: Luciene.” Com a voz carregada de emoção, Carlos Vinícius, mediador da conversa e curador local, iniciou o encontro no auditório da biblioteca da UniAraxá, na manhã desta quinta-feira (3/10), dentro da programação do 13.º Festival Literário Internacional de Araxá – Fliaraxá.

Ao introduzir a mesa, Carlos trouxe à tona o tema central do festival “Memória, encruzilhada e literatura” e falou sobre a importância de se trabalhar a memória e de reconhecer a potência das escolhas que surgem nas encruzilhadas da vida. “Tudo começou quando eu, na Escola Armando Santos, decidi participar do concurso de redação do Fliaraxá. Isso transformou a minha vida e por isso eu estou aqui hoje. Gostaria de falar com você sobre a potência da literatura na vida de uma pessoa e de saber que eu vivo isso até hoje. E temos aqui uma professora que continua se desdobrando, dentro do contexto educacional do nosso país, para continuar transformando a vida de pessoas através da educação”, destacou, em homenagem à professora Luciene.

Divulgação

Para compreender a origem dessa força e a atuação da educadora, Carlos perguntou sobre os desafios atuais, principalmente diante do excesso de informações que atravessam a sala de aula. Luciene explicou que não existe prática suficiente na formação inicial e que aprendeu o ofício no contato direto com os alunos. Lembrou, emocionada, de um projeto de literatura que já dura quase dez anos e tem efeitos imediatos na vida escolar. “A literatura abre portas”, afirmou. A iniciativa começou quando percebeu a deficiência de leitura entre alunos do sétimo e oitavo ano, que chegavam sem base. “O primeiro livro que escolhemos trabalhar foi o ‘Pequeno Príncipe Preto’. Ele teve uma aceitação tão grande que fizemos entrevistas, teatro… até porque o objeto do projeto é trabalhar todos os gêneros literários com o auxílio do livro”, contou.

A proposta, voltada para a criatividade autoral dos estudantes, busca impulsionar sonhos e mostrar que eles “podem ser o que quiserem”. Para Carlos, o grande êxito do projeto está justamente na “possibilidade de sonhar”. Ele falou sobre sua experiência em escola pública e a pressão que acompanha esses alunos. “Somos colocados em pressões que outras pessoas não serão, temos acessos limitados, mas vamos estar com essas pessoas no mercado de trabalho e competindo por vagas nas universidades. E, por muito tempo, somos ensinados a acreditar que não pertencemos a esses lugares. Mas a literatura é um espaço de questionamento e abre portas para que a gente consiga transformar o nosso lugar”, aconselhou.

O poder do projeto se expressa na leitura de quatro obras por ano, que se desdobram em análises integradas a diversas áreas do conhecimento. Mais do que repertório, contribui para a formação de novos escritores. Questionada por Carlos sobre como mantém o fôlego após 19 anos em sala de aula, Luciene respondeu com sinceridade: “Eu também estudei em escola pública e tive excelentes professores. Quando eu via um professor com muita vontade, eu queria ser igual. É claro que nem sempre é tudo bom. Eu brinco que dar aula é como estar na fila de um parque para comprar ingresso sem saber para onde o brinquedo vai. Quando você compra, pode ser uma montanha-russa. Às vezes é assustador, às vezes é brilhante, mas é sempre novo. Eu falo que os quatro livros são uma porta para um grande universo.”

Nesse universo, Carlos lembrou sua própria porta de entrada: a “Turma da Mônica”. “A partir disso, as coisas vão se desdobrando. Eu acredito que você só começa a ler quando descobre o que gosta”, disse.

Para contextualizar o tema do festival, Carlos fez um paralelo com as encruzilhadas da educação. Pontuou que muitos problemas do Brasil encontram respostas na sala de aula, no “olho no olho” entre professor e aluno. Luciene concordou. “A escola inteira é como uma ilha em que você olha de fora e acha que sabe como é. Muitos julgam os professores, mas nós lutamos. É pegar um aluno e mostrar que ele consegue e é capaz. Isso só acontece em sala de aula. Não perdemos a esperança e não deixamos que nossos alunos percam também. Fácil não é, mas eu acredito. E quando eu vejo o meu aluno aqui, sendo curador do Fliaraxá, não tem nada que pague”, disse, emocionada, olhando para Carlos.

Em troca com os alunos na plateia, Carlos falou da revolta típica da juventude e de como os diálogos com professores ajudaram a transformar esse sentimento em aprendizado. “A primeira vez que entrei em uma sala para palestrar, senti que teria que lutar contra 30 alunos. Mas, com o tempo, a gente vai destravando essas camadas e criando conexão. Essa foi a conexão que eu sempre tive com você, professora Luciene, que buscou entender problemas e solucionar questões que iam além da sala de aula. Hoje quero te parabenizar e te agradecer.”

Luciene respondeu que tenta melhorar todos os dias, escutando e aprendendo, mesmo nos momentos mais difíceis. “É como você disse. Em alguns dias parece que a gente está lutando. A professora contra a professora e os alunos contra a professora. Eu gosto da calmaria das salas de aula e acho que a literatura liberta. Às vezes, vivemos pequenas guerras dentro de casa e dentro de nós, que a literatura abranda”, ensinou.

Sobre o 13.º Fliaraxá
O 13.º Fliaraxá ocorre de 1.º a 5 de outubro, no Teatro CBMM do Centro Cultural Uniaraxá. O evento acontece em mesas de conversa com escritores, lançamentos de livros, prêmio de redação, atividades para as crianças, apresentações musicais, entre outras. Todas as atividades do Festival são gratuitas.

Há 13 anos, a CBMM apresenta o Festival Literário Internacional de Araxá Fliaraxá, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura, com a parceria da Bem Brasil e o apoio cultural do Centro Cultural Uniaraxá, da TV Integração e da Academia Araxaense de Letras.


13.º Festival Literário Internacional de Araxá Fliaraxá
De 1.º a 5 de outubro, quarta-feira a domingo
Local: programação presencial no Teatro CBMM do Centro Cultural Uniaraxá (Av. Ministro Olavo Drummond, 15 – São Geraldo), e programação digital no YouTube, Instagram e Facebook @fliaraxa
Entrada gratuita

CDK – Permuta
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